Mas estarem quentes é, pelo menos para os países com economias mais petrodependentes, muito relativo, porque, no caso de Angola, que tem no sector petrolífero o seu "Red Bull" para lhe dar asas, mesmo bom é quando o barril de Brent passa em cima a barreira dos 70 USD.
E a razão é simples, sendo a fonte do "calor" o facto de Luanda ter usado como valor médio anual para elaborar o seu OGE 2025 os 70 USD por barril, valor que este ano, estando ainda no mês de Agosto, não foi alcançado, embora, em termos médios, tal possa ainda acontecer.
Apesar de a semana estar quase no fim, o que resta desta quinta-feira, 28, e ainda sexta, 29, pode trazer novidades, especialmente num sector tão volátil como o petrolífero, mas, se não acontecer nada de extraordinário, o barril de Brent deverá manter.se abaixo dos 70 USD.
Para já, nesta manhã de quinta-feira, o Brent, no mercado de Londres, estava a valer, perto das 11:20, hora de Luanda, uns pouco apetitosos 67,5 USD, uma descida ligeira face à última sessão, mas com uma ligeira no contexto semanal, embora ligeira e de pouco impacto, especialmente na economia nacional.
Curiosamente, a guerra na Ucrânia, que já raramente aparece no noticiário especializado como combustível para o sobe de desce dos mercados, está hoje a ser referenciada de novo devido ao ataque ucraniano ao oleoduto Druzhba, que serve países como a Hungria e a Eslováquia, deixando os nervos dos governos de Budapeste e Bratislava à flor da pele.
Primeiro, fazendo o verde aparecer por entre o sombrio período do início da semana, e, agora, no fim deste ciclo semanal, é também o ataque à "Amizade" (tradução do russo para Druzhba) russa-húngara. Eslovaca que está a tingir de vermelho os gráficos devido ao reatar do fornecimento do crude russo aos dois países da União Europeia e da NATO.
Além do caso do "Amizade", os mercados foram ainda sensíveis aos dados revelados nos EUA sobre as reservas da maior economia global, e maior produtor planetário, que caíram 2,4 milhões de barris na semana passada, muito mais que as expectativas dos analistas.
Como elefante nas salas dos traders mundiais está a questão das tarifas norte-americanas aplicadas à Índia, porque ainda não é clara a reacção de Nova Deli, embora já se saiba que o Governo de Narendra Modi já fez saber que não vai deixar de adquirir o crude e gás russos.
A acrescentar a essa informação, o 'ministro indiano dos Negócios Estrangeiros, Subrahmanyam Jaishankar, conhecido pelo seu fino humor e não ter papas na língua, veio a público explicar a Washington que só compra os produtos refinados a partir do crude russo pela Índia "quem quiser" porque "quem não quiser, não compre".
Mas Jaishankar acrescentou, porém, que entre os compradores desses mesmos produtos estão países como os Estados Unidos da América e da União Europeia que tanto criticam a Índia por estar fazer aquilo que DOnald Trump tanto elogia e gosta, que é "fazer negócios".
A pairar igualmente sobre os mercados como uma sombra está o encontro marcado para esta sexta-feira, 29, entre o enviado de Trump para a guerra na Ucrãnia, Steve Witkoff, e o principal conselheiro do Presidente ucranianio Volodymyr Zelensky, Andriy Yermak, em Nova Iorque, que leva como cartão de visita a optimsta frase do Presidente dos EUA: "Vamos acabar com esta guerra!".
É importante do ponto de vista dos mercados petrolíferos porque se tal acontecer, embora muito, muito difícil, o petróleo da Rússia, o segundo maior exportador do mundo, volta a fluir, mesmo que a prazo dilatado, livre das sanções ocidentais e isso fará rapidamente os preços caírem. É por isso que em Angola se olha com muita atenção para este momento histórico.
Mercados agitam-se em baixa e a economia angolana treme
O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos imponderáveis no conflito tarifário de Donald Trump com China, Índia e Brasil... e agora com a perspectiva de uma solução negociada para a guerra na Ucrânia.
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.