Na realidade, a culpa não é da chuva ou das alterações climáticas nem das ameaças de feitiço lançado por quibandas treinados e muito menos da vingança da natureza contra os seres humanos devido ao desenvolvimento insustentável por este perpetrado. É resultado da desorganização generalizada e da deficiente planificação que não consegue acompanhar o ritmo do rápido crescimento populacional, da expansão urbana e da ruralização das cidades. Mas isso é assunto para outra altura.

Este verão, que lentamente parte para um período de hibernação, não deixa boas lembranças. Para além dos estragos das chuvas intensas, dando força ao ditado "Em Abril, Chuvas Mil", esse verão foi atípico, uma vez que deve ter sido a primeira vez em centenas de anos que os populares não puderam desfrutar das nossas praias, refrescando-se no oceano Atlântico, tirando talvez uma pequena minoria que fintava as regras e no Mussulo e noutros locais, longe do olhar das autoridades ou com a sua conivência, conseguia dar um mergulho básico para afastar o suor que teima em fazer cócegas nas costas. Um rio sinuoso que molda o humor de quem com ele comora.

Entra agora o cacimbo com temperaturas mais moderadas que vão permitir que o sereno tome conta das nossas vidas ajudando no retemperar das energias, aquietando a agitação do verão. Muda a estação, mas os problemas continuam a acompanhar-nos, ora de forma mais vagarosa como o vento do cacimbo, ora mais intensamente como as chuvas de Abril e seus ventos desvairados. É altura de procurar no baú por um agasalho para o final do dia em certas províncias, enquanto noutras será preciso mais do que um simples agasalho, pois o tiritar dos dentes anuncia temperaturas mais baixas.

Esta nossa versão de inverno, por culpa de estarmos localizados nesta latitude, vai trazer amanheceres misteriosos, uma manta com o desígnio de nos proteger, de nos preparar para mais um verão. Uma estação abraçada a uma outra, dando esperança por dias melhores.